domingo, 13 de maio de 2012
Clouds covered love
Demência é uma palavra forte, mas é tão real como crua. Os velhos são as novas crianças do nosso pequeno planeta. Ainda bem que começa a haver preocupação com este tema, mas a sociedade ainda não é capaz de responder ao crescente número de idosos. Ficam sozinhos em casa, imobilizados, sem apoios, sem comida, sem limpeza, sem discernimento. Senis, tristes, sós, à espera que alguém apareça para lhes iluminar o dia. Alguém aparece sempre, ou quase sempre. Mas é quase sempre insuficiente. Podem ter apoio em casa 10 vezes por dia, quem durma com eles para avaliar as necessidades. O problema é que haverá sempre um momento a sós que os faz perder a cabeça. Precisam de fraldas, precisam que lhe ponham a comida no prato, têm sede, querem jogar umas cartas. Fazem xixi na cama, porque a fralda serve para ser arrancada. Trocam o nome aos cuidadores e perguntam por aqueles que já morreram. Falam em ir jantar a casa do irmão mais velho, que já morreu há 30 anos. Pensam que estão na década de 70, pois o ano 2012 é só no futuro e para eles o Benfica ainda é o clube que mais ganha em Portugal.
É demasiado triste pensar que a vida deles se resume a uma deturpação total da realidade, é demasiado triste pensar que nós próprios não os conseguimos compreender... É uma vitória saber que eles se lembram de nós e sorriem para nós, e nos chamam pelo nome. É triste ver que acham que é dia quando são 10 horas da noite.
Temos que amar os nossos velhos, mesmo que já não sejam quem eram, mesmo que sejam outras pessoas, diferentes do que o que nós conhecemos, pois por muitas diferenças que hajam, a ternura dos seus olhares nunca irá mudar.
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